O JULGAMENTO DE SALOMÃO
Havia planejado pintar um quadro que retratasse a Justiça de Salomão, principalmente, levando em conta que o Salmista tem muito a ver com a Maçonaria. Com certeza seria mais uma Obra para complementar a ornamentação da Sala de Estar da minha Loja Mãe – Aurora de Brasília – contudo, também, deveria servir como meio de transmitir certas mensagens, diretamente, aos Irmãos.
Todos conhecem a notoriedade de Salomão, não só como sendo um Monarca esplendoroso, mas, sobretudo, pela maneira como promovia a Justiça. Sem dúvida alguma, a mais famosa decisão judicial, tomada por ele, se refere à divisão de uma criança ao meio, em razão de estar sendo disputada por duas mulheres que se diziam a mãe. Sendo, prontamente, impedida de ser consumada, devido a forma com que a verdadeira genitora reagiu, abrindo mão do seu direito de levar o rebento, para que permanecesse vivo, ainda que ao lado da falsa mãe.
Acredito que ficaria uma pintura muito atraente, entretanto, não iria atingir o meu objetivo maçônico, pois não haveria uma relação direta com a Ordem, embora, se tratando de uma ação de justiça justa e perfeita, sempre seria ovacionada pelos Irmãos.
Assim, resolvi retratar Salomão promovendo outro julgamento. Sem ser conhecido no mundo profano, mas muito referenciado entre os Mestres Maçons.
Então, comecei a esboçar o ajuizamento de três Obreiros que, trabalhando na construção do Templo a ser erguido em louvor a Deus, acreditaram que poderiam obter benesses, submetendo o Mestre Iran – responsável pela Grandiosa Obra - a determinada opressão, e, não obtendo o que desejavam, acabaram levando-o à morte. Entrementes, reconhecendo o ato criminoso e tão infame que haviam cometido, ainda que buscando se ocultarem, num gesto de desespero, declararam em viva voz, como deveriam ser punidos. E, uma vez encontrados, foram levados à presença de Salomão, que os julgou atribuindo-lhes as punições, por eles mesmo ideadas.
Dessa forma, procurei retratar o Rei Salomão, Sereno, pronto para realizar um julgamento Justo e Perfeito. O pintei sentado em seu Trono, postando o seu cetro, de forma, a ressaltar a sua tranquilidade, enquanto aguardava receber de outro Mestre da Obra, as vestes ferramentas usadas pelos criminosos, manchadas com o sangue de Iran assassinado, como prova do delito. Com tal pintura, busquei demostrar Salomão como exemplo de dignidade e, aos Maçons, como devem se portar, diante de situações e circunstâncias que o levem a julgar alguém.
Pintei ao fundo e à frente das colunas, que ornamentavam o Templo, os nove Mestres que saíram em busca dos trabalhadores infratores e, após encontra-los, os trouxeram à presença do Monarca. Também, busquei nessa pintura, mostrar que compete aos Mestres a busca incessante da Verdade, e, ainda que as dificuldades possam parecer impedimentos, o seu encontro é a meta final, sendo proveitoso para o crescimento de cada um, em particular, e de toda a sociedade, ao garantir o desenvolvimento da humanidade.
E, bem próximo à escada que conduz ao Trono de Salomão - com seus degraus ladeados por leões de ouro – pintei os três criminosos. Todavia, procurei também, configurar nas expressões dos obreiros delinquentes, as sentenças a que eles mesmos se impuseram.
Pensei com tal pintura, transmitir que o arrependimento é, sem dúvida, uma forma de demonstrar o reconhecimento de contrição ao mal efetuado, mas nunca irá sanar o dano cometido. Por conseguinte, é muito mais fraterno – porque não dizer mais humano – constatar as consequências que irão ocorrer, antes de qualquer procedimento que o Maçom se dispuser a realizar. Daí, a imperiosidade de cumprir o primeiro dever maçônico - volver o seu pensamento a Deus, buscando a proteção Divina, antes de qualquer empreendimento a ser efetuado.
Com a pintura de todo quadro, imaginei lembrar que por Cobiça, por Ganância e por Vaidade, jamais, um Irmão poderá crescer na vida... Só conseguirá causar desgraças.
Creio ser interessante narrar que levei alguns meses para realizar a pintura, entretanto após terminá-lo e já com a passagem comprada para levá-lo para Brasília, minha mulher teve uma taquicardia – naturalmente, nada a ver com o quadro – mas, ainda que eu tivesse dito que era uma reação psicológica e uma resposta normal do organismo, ela me pediu para irmos ao cardiologista. Então, aproveitei, para também fazer um eletro com esforço e, de repente, um inesperado diagnóstico – eu é que estava mal, o miocárdio apresentada 90% (noventa por cento) de entupimento. O médico não sabia por que eu não tivera um enfarto, face aos esforços jogando futebol de salão, todas as quartas feiras, com os Irmãos da Humildade e Fraternidade.
Teria que ser submetido à cirurgia. O Gr.: Arq.: do Univ.: se aproveitara do taquicardia de minha mulher para mostrar o que eu não sentia e as providencias a serem tomadas.
Assim sendo, vi-me obrigado a enviar o quadro, ao invés de levá-lo e, no dia 24 de junho de 1993, enquanto o meu coração estava sendo operado, no INCOR – em São Paulo, o “Julgamento de Salomão” estava sendo aberto à exposição, na Sala de Estar da Loja Aurora de Brasília, no Distrito Federal.
Acadêmico Ir.: Hever da Silva Nogueira – Cadeira nº 13 – Patrono : Ir.: Kurt Prober